segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Homem-bicho / Homem livre A cidade concreta e a cidade que sonha (Pesquisa inicial sobre construção do novo trabalho)

            A ação nas cidades propõe uma reflexão sobre conceitos equivocados de realidade. Esses conceitos são reproduzidos pelos indivíduos devido à influência do meio: “formas inventadas pelo homem para representar, simular e criar a chamada realidade”.
Esse equívoco desenha-se no decorrer da história sob a influência demasiada dos canais de comunicação que deturpam o verdadeiro sentido das emoções que permeiam o homem. Ao padronizar comportamentos, esses canais estariam rejeitando as particularidades comportamentais de cada um.
Ao valorizar essas particularidades emotivas do homem em meio à concretude das cidades, se estará reproduzindo um ambiente em que o imaginário passe a ter uma função mais taxativa dentro da realidade de quem vive. Essa ação de quase fundir real e imaginário gera identificação e convencimento. O indivíduo sensibiliza-se com o que vê e ouve, não somente por que a música e as imagens utilizadas na intervenção possuem o poder de persuadir, mas, também, porque tem diante de si um legitimador do ato: o ator performático. Seu envolvimento em todo o universo proposto fará desse espectador um ator social em potencial, que exercitará o ato de teatralizar sua realidade.
O jogo entre o real e o imaginário tem seu propósito estabelecido quando da aplicação desse ato de duplicar-se por parte do próprio ator que executará a performance. Pessoa e personagem se estabelecem na trama com o propósito de fazer uma ponte entre o sonho, a fantasia e a realidade. De início, o ator simula uma dificuldade em transpor o obstáculo da realidade para, num segundo momento, entregar-se ao nível do imaginário e perceber a cidade como um ambiente mais profundo e possível de se sonhar.
Nessa perspectiva, o próprio homem se desconstrói para reconstruir-se. As imagens apresentadas buscam relatar, num primeiro momento, o homem-bicho; aquele que tem seu pensamento cristalizado e suas ações repetidas, convencionalizadas. Daí, o salto para o homem que se liberta em meio ao caos urbano. A cidade, assumindo o espaço do sonho, que se dilui em meio à sua concretude, faz surgir um indivíduo livre, um bicho não domesticado, mas sensibilizado, transformado.
O ator, em sua personagem, deixa para trás os movimentos primitivos e agora apresenta, de forma clássica, uma outra relação social, mais equilibrada. Sua respiração é outra, seu olhar idem. A canção quebra; sai do tom radical e passa a colaborar, com seus acordes, nos movimentos leves que agora se destacam.
Zé Geraldo 


É no dia-a-dia, nas coisas mais simples que estão contidos os maiores milagres. Sobre essas coisas que passam a todo momento na nossa frente e que nem nos damos conta, é que o ator faz o seu trabalho social, levando para o espectador uma reflexão do seu próprio cotidiano. Fazendo com que este se torne poético e passível de uma admiração como se fosse uma obra de arte.
João Mandarino 


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